No dia 28 de junho de 1969, a polícia de Nova York invadiu o bar Stonewall Inn, frequentado por pessoas LGBT. O ato violento e injustificado estimulou reação e os protestos que surgiram em seguida se tornaram a semente de movimentos pela luta por igualdade de direitos individuais nos Estados Unidos e, posteriormente, mundo afora. Esta é a origem do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Para comemorar a data, vamos destacar o trabalho de artistas de nosso catálogo que afirmam o seu lugar no mundo com coragem, poesia e música.

 

Maria Beraldo abalou as estruturas com o lançamento de Cavala (2018), seu primeiro álbum solo e autoral. Em meio ao repertório, a artista apresenta a sua maneira de interpretar o mundo, naturaliza o contraditório e escancara processos de autoconhecimento. Os anseios, desejos, as histórias, as angústias e as paixões de uma mulher lésbica – mas que gosta de ter “homens ao alcance da boca” – vão se desdobrando com a potência de um grito. Com uma estética singular e inovadora, a obra de Maria Beraldo borra as fronteiras entre amor e política, ternura e força, intimidade e estranhamento. Sua poética é direta até para abordar as ambiguidades que se apresentam no mundo. Há delicadeza, mas não há meias palavras. Ao contrário, cada uma delas assume diversos significados, a começar pelo título do disco. Indomável.

 

Em 2018, o anúncio do namoro da percussionista Lan Lanh com a atriz Nanda Costa (ambas compositoras) gerou grande repercussão nas redes sociais e na imprensa. Para agradecer as manifestações de apoio e combater o preconceito, elas publicaram no Instagram um trecho da então recém-criada composição “Não É Comum Mas É Normal”. A música rapidamente se tornou um ícone de afirmação da causa LGBTQIA+ e, a pedidos do público, as duas artistas resolveram lançá-la como single. Canção-manifesto, a composição de Lan Lanh e Nanda Costa é uma resposta contra o preconceito, mas também está ligada a outras questões, como auto-estima, relacionamento e feminismo. “Não É Comum Mas É Normal” foi lançada justamente no dia 28 de Junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.

 

Quem ouve As Baías pela primeira vez não precisa saber nada sobre a banda para perceber que está diante de uma proposta estética ousada e original. Não precisa saber que seus três integrantes se conheceram enquanto cursavam História na Universidade de São Paulo; que começaram a tocar juntos em homenagem a Amy Winehouse no ano em que a cantora faleceu; ou que têm em Gal Costa sua principal influência. É possível ainda se sentir instigando pelo estilo potente e visceral das canções sem saber, por exemplo, que as frontwomen da banda são mulheres trans. Mas isso, nem de longe, é algo que Assucena Assucena e Raquel Virginia estejam dispostas a esconder. Ao lado de Rafael Acerbi, elas sempre afirmaram a dimensão social e política da música que fazem, e são hoje vozes das mais inspiradoras na luta pela causa LGBTQIA+ no Brasil. Visibilidade conquistada com o talento e a coragem de revelar artisticamente o que são e como enxergam o mundo. Pop, samba, rock, ciranda, festa, protesto, reflexão, denúncia, humor, romance… Por saberem que o melhor jeito de descobrir é experimentando, As Baías seguem com sua “música progressiva brasileira”. É a articulação entre os elementos (sempre em transformação) que fazem de nossa música referência de modernidade nos quatro cantos do mundo e mensagens poderosas em favor da representatividade das pessoas trans, da luta por direitos e do combate ao preconceito. Quem ouve As Baías pela primeira vez deveria saber que está diante de algo que vai além de uma proposta estética ousada e original.