Desprotegidos pela sorte
Jogados na sarjeta
Dormindo no vão dos viadutos
Debaixo das pontes de muletas
Trabalhadores na construção civil
No comércio de escravos
Motoristas trocadores prostitutas traficantes
Roendo o osso do dia
Virando a noite
Trocando o dia pelo breu da noite
Mordendo o lado escuro da vida como um fruto podre
Se virando
Michês de fliperama sexo pastel caldo de cana
Cheiram cola na porta do cinema
Film noir na luz do meio-dia
O sol escorre
A dama do lotação
A lama do sol a cama o drama a alegria
O sol a chuva fina Avenida Paulista garoa
Desprotegidos pela sorte jogados na sarjeta
Comendo lixo na rua, pedindo esmola na porta dos bancos
Assaltando o ônibus sendo assaltados pelo patrão
Desprotegidos de nós mesmos desprovidos de cólera santa
Filhinhos de papai no shopping center
Boyzinhos filhos de políticos corruptos milicianos
Gatinhos gatinhas caretas e malucos na matinê das boates
Bebendo fogo
Críticos de arte inadimplentes
Segmento da nossa sociedade
Elite de merda
Graffiti contra a violência da classe dominante
Ataque
O mundo está em nossas mãos
Ataque
Contra a cegueira e a miséria
Nada ofusca o que é belo
O sonho não morre
Prazeres são muitos e estão servidos
Bendito fruto de inúmeras formas e cores
O amor é tudo que o opressor despreza
Esse sim, pobre de tudo
Os excluídos do banquete um dia vão se fartar
De festa, trabalho, pão, Gil e Capinan
Ataque
O mundo está em nossas mãos
Ataque
Contra a cegueira e a miséria