Pedaço de Sol

Aprendi do amor
Meu amor
Que o amor é um barco distante
E não se sabe se vem
E não se sabe se vai
Aprendi do amor
Meu amor
Que amar é singrar sobre pedras
E num barco de papel entre elas
Naufragar pelos céus
Aprendi do amor
Meu amor
Que o amor me deixou à deriva
Me deixou essa vida
Entre o barco e o mar
Aprendi do amor
Meu amor
Que o amor naufragou em mim
E aquele barco
Não existe mais

Uma moça na janela
Olha tudo que passa por ela
Passa a noite passa o dia
Passa o sopro de maresia
Daqui de dentro de mim
Quero te ver passar por mim
Pela janela em mim
E no meu jardim
Sorrir pra mim
Fogo de estrelas
Treliças em mim
Vejo ele não me vê
Do meu muxarabi
Destrançar os cabelos
Mergulhar no vento em ti em mim
A carambola e o sapoti
Muxarabi
Sombra e água fresca
Muxarabi
Dormir enfim

Menina, que coisa é essa
Venha cá e me responda
Por que você botou meu nome
Na areia, pertinho das ondas
Menina você emudeceu
Por que você não responde
O mar levou meu nome
E você sabe pra onde
Se foi pra lembrar
Será que outro lugar não havia
Por que não foi no coração
Onde os peixes não vão
Nem a maresia

Um dia encontrei um homem com cheiro de mar
Mas era tão bom aquele cheiro
Era tão bom tocar naquele cheiro
A pele morena com gosto de sal
Sim, era sal o sabor daquele corpo
Cada vez que eu passava minhas mãos naquele corpo
Era como navegar em algum mar
Suas formas eram ondas que passavam por mim
Que desaguavam em mim
E que se encaixavam em mim
E eu que estava tão distante do mar
Ele veio de algum porto
De algum navio que ancorou
Pra depois voltar
De vez em quando me dou conta de estar
na beira de algum mar
Como se ele estivesse pra chegar

Pra sempre é muito tempo
Pra sempre é muito tempo
Pra sempre é tempo demais
De posse de um pra sempre ‘cê não sabe
do que eu sou capaz
Pra sempre é tempo demais, meu bem
Acrescente um ao infinito
Neste dia terá feito um ano
Que o nosso amor eterno se acabou
O fato é que o pra sempre
Nunca, nunca, nunca começou
Mas nunca é muito tempo
Mas nunca é muito tempo
Nunca é tempo demais
O nunca é um pra sempre nau errante
que encalhou no cais
Nunca diga pra sempre, não
Junte as montanhas do Himalaia
Equilibre tudo no Everest
E crave sua bandeira de alpinista no meio do céu
Depois de escalar o nunca seja pra sempre feliz

Semi-pop mezzo triste
Planto velas por aí
Flor de leve medo em riste
Espero quase a chuva cair
Sêmen cinza cello riso
Rasgo o tempo devagar
Putriflorado veneno
Áspero vinho favor de luar
Sempre nave som na água
Língua sã o seu sorrir
(M)ar em ar de madrugada
Fértil prata solo em si

Passarinho do mato
Passarinho do mato
Passarinho do mato
Voa para teu ninho
Voa para teu ninho
Hoje enquanto há
Hoje enquanto há
Hoje enquanto há
Articulação no teu corpo
Articulação no teu corpo
Articulação no teu corpo

Todo carro de boi

Se acaba na estrada
Esquecido pelo tempo
Por já não servir pra nada
Quando ele me deixou
Nem ao menos disse nada
Dos olhos correram rios
Para um mar
Que há em mim de mágoa
E o nosso amor
Tá esquecido na estrada
Como um velho carro de boi
Que já não serve pra nada

Ô serena serená
Serena do amor
No braço de quem me ama
Morro mas não sinto a dor serená
Tanto bem que eu te queria
Tanto má que eu te joguei
Tu viver em porta em porta
Com a mochila na mão serená
Avoei meu lenço branco
Dentro dum gomo de cana
Num pude amar de perto
De longe também se ama serená
Serena do amor
Serena serená
No braço de quem me ama
Morro mas não sinto a dor serená
Menina casa comigo
Que tu num morre de fome
No mato tem berdruega
No roçado manjangome ô serená
Menina dos olho’ preto
Sobranceia de veludo
Teu pai num tiver dinheiro
Mas teus olho’ vale tudo serená
Serena do amor
Serena serená
No braço de quem me ama
Morro mas não sinto a dor serená

Eu tenho um pedaço de sol
Que guardo comigo
Desde menina
Um pedaço de sol
De um dia bem lindo
Tão lindo
Tão lindo
Quanto um sol menino
Eu pulava muros
E sonhava nuvens
Eu saltava mundos
E contava estrelas
Eu dizia tê-las
Na palma da minha mão
Eu tenho um pedaço de sol
De um dia tão lindo
Que guardo comigo
Desde menina