Toda música capaz de contagiar a galera é mais que bem-vinda na hora de cair na folia. Mas as origens da nossa maior festa popular estão ligadas a certos estilos musicais que fazem parte da vida de todo brasileiro. São gêneros que atravessaram as diferentes fases do carnaval e continuam conduzindo a alegria por ruas, bailes e avenidas. Todas estas expressões carregam histórias interessantes que dizem muito sobre as características dos lugares em que nasceram e sobre a diversidade da nossa cultura musical. Aqui vão algumas dessas histórias:

 

 

Marchinha

Composta em 1899, a marchinha “Ó Abre Alas” de Chiquinha Gonzaga é a primeira música feita exclusivamente para uma agremiação carnavalesca. Com algumas adaptações na cadência, a marchinha de carnaval é descendente direta das marchas populares portuguesas e tem como característica marcante o teor satírico e apimentado das letras. O gênero português é ainda uma das raízes mais fortes do frevo pernambucano. A partir da década de 1920, a marchinha feita no Rio de Janeiro foi ganhando elementos do maxixe e do lundu, aproximando-se do samba. “Marcha da Chiquinha” é uma homenagem da Orquestra Popular Céu na Terra, bloco de carnaval do nostálgico bairro carioca de Santa Teresa, à grande compositora brasileira.

 

Samba-enredo

O sub-gênero mais carnavalesco do samba surgiu na década de 1930 para embalar os desfiles e apresentações das então recém-nascidas Escolas de Samba. Mas, por decisão da comissão organizadora dos desfiles, foi apenas a partir da década de 1940 que as agremiações passaram a cantar um samba exclusivamente sobre o enredo escolhido de cada ano, sem dar margem às costumeiras improvisações que aconteciam nos desfiles anteriores. Elaborado e julgado durante um ano inteiro, além de exaltar sua agremiação, o samba-enredo precisa desenvolver de forma poética o tema apresentado pela escola. Alguns desses sambas se tornaram verdadeiros hinos ao contar histórias de lutas sociais, reconstruir lendas ou traçar retratos do povo e da cultura do Brasil.

 

Frevo

Marcha-militar portuguesa, ritmos afro-brasileiros, capoeira, bloco carnavalesco de rua. Coloque tudo isso em uma panela de pressão e acenda o fogo no máximo. O frevo é uma síntese em ritmo acelerado de quase todos os elementos mais marcantes da cultura brasileira. Frevo é energia e não por acaso o seu nome vem de “fervo”, de “ferver”. No carnaval, os foliões exaltam e defendem os estandartes de seus blocos preferidos. Aliás, a fantástica dança surgiu como uma forma de ludibriar a polícia nos momentos em que capoeiristas de blocos rivais se encontravam. Para não sair presos, todos saiam dançando e, aos poucos, os movimentos da capoeira foram se transformando nos passos da dança frevo.

 

Do Afoxé ao Axé

É impossível destacar um único gênero musical em um carnaval que não se cansa de recriar e reinterpretar suas próprias tradições como é o caso do carnaval baiano. O afoxé, por exemplo, é herança do povo iorubá e o cortejo de carnaval, que remonta ao final do século XIX, tem principalmente um profundo significado religioso; o “Candomblé de rua”. Destacam-se os instrumentos percussivos característicos como o atabaque, o agogô e o afoxé (cabaça geralmente de madeira revestida por uma rede de contas) por meio dos quais se produz a cadência ijexá, tradicionalmente o ritmo que se toca para os Orixás. Prova do processo de sincretismo que domina as manifestações culturais afro-brasileiras, alguns pesquisadores consideram o afoxé uma outra forma de maracatu. Quando, na década de 1950, os amigos Dodô e Osmar subiram no carro de som para amplificar suas músicas, criou-se a possibilidade de o ijexá se misturar ao frevo baiano e se eletrificar. A dupla elétrica se transformou em trio com a incorporação do baixista Temistoles Aragão. Entre as décadas de 1970 e 1980, o fortalecimento dos Blocos Afro, como o Ilê Ayiê, trouxe com o samba-reggae os ingredientes que faltavam para o surgimento da Axé music.

Para nós da Editora Dubas, toda música é boa quando está no lugar certo. Ano após ano, as tradições do carnaval vão ganhando outras leituras e versões, ou passam a dar espaço a novas tendências musicais. Lançadas recentemente, músicas como “Raggaxixe”, de Thiago França, “Ladeira do Samba”,  de Donatinho, e “De Boa”, de Luciano Calazans e Ronaldo Bastos, são bons exemplos disso ao propor inovações aos estilos e temas tradicionais do carnaval.