“Pero Que Si é um movimento sonoro pelo fim das fronteiras, sejam elas artísticas ou afetuosas.” Assim o coletivo formado por Bruno Zanetti, TAMY, Negoleo e Jeremy Naud define sua proposta.
No imaginário popular brasileiro, a expressão “pero que si, pero que no” é antes de tudo um sinal de aproximação. Embora não exista em espanhol, ela é frequentemente utilizada logo ao primeiro contato com falantes do idioma – sobretudo com nossos vizinhos de continente – na tentativa de remover inibições, indicando uma disposição franca ao diálogo. Assim, em meio à incerteza que o termo denota, emerge a vontade genuína de se expressar e de compreender o outro. Nesse sentido, não poderia haver escolha melhor do que Pero Que Si para batizar o quarteto que em seu primeiro álbum parece tomar América Latina e Caribe pelo pulso, buscando um som capaz de desanuviar tensões, desembaraçar caminhos e transcender os limites.
O epicentro do projeto foi sentido pela primeira vez em Vitória, capital do Espírito Santo. O instrumentista e produtor Bruno Zanetti apresentou a ideia ao também instrumentista, compositor e produtor Negoleo, e à cantora e compositora TAMY, três referências da dinâmica cena musical capixaba. Bruno é o piloto do estúdio Funky Pirata, para onde convergiram as boas vibrações sonoras que, bem antes da pandemia, foram concebidas a partir de Portugal, Uruguai, Argentina, Brasil e França, terra de outro integrante do time, o multi-instrumentista e produtor Jeremy Naud. Zanetti, Negoleo e Naud assinam a produção musical. A mixagem ficou a cargo de Sebastian Duran e a masterização, passando por fitas analógicas, foi feita por Arthur Joly.
São sete faixas autorais. Com exceção de “Noventa”, composição instrumental de Negoleo (que ressurge ao fim do álbum em versão Dub), todas elas têm letras assinadas por TAMY: “Douze”, a primeira faixa, é a única em espanhol; as demais são em português. O repertório é quase sempre leve e dançante, sem jamais abrir mão de um tempero apimentado característico das experiências sonoras do Novo Mundo. Canções românticas e inteligentes (como o single “Deixa”) convivem harmonicamente com momentos mais reflexivos e combativos. Os ritmos caribenhos, sobretudo o reggae, formam um fio condutor que, no entanto, permite a chegada de afluentes vindos do sul do continente. A gravação da emblemática “Sangue Latino” une todas essas vertentes, em uma versão suave que elegantemente amplia o tom crítico da música. “Os ventos do norte não movem moinhos”.
Tudo é traduzido graficamente na bela capa criada por Gian Paolo La Barbera. Veredas, rotas marítimas, raízes que se espalham no solo, veias abertas. A força e a vitalidade da proposta de Pero Que Si está na disposição em percorrer sem embaraço caminhos ainda inexplorados dentro do emaranhado de possibilidades poéticas e musicais que o nosso continente apresenta.