Lançado originalmente em 1979 e relançado em CD pela Dubas em 2008, o lendário “Terra dos Pássaros” é o primeiro álbum de Toninho Horta. Um disco histórico repleto de histórias. Aqui vão 9 fatos e curiosidades sobre o disco.

 

🦅🎸”Terra Dos Pássaros” tem a marca da generosidade de Milton Nascimento. Em 1976, Toninho Horta fazia parte de um time estrelado de artistas que estavam com Bituca em Los Angeles para a produção do álbum “Milton”. Tudo transcorreu perfeitamente e, ao final das gravações, sobraram fitas e dias de estúdio, que Milton Nascimento cedeu a Toninho Horta. Um dos guitarristas mais admirados (e requisitados) do mundo, Toninho já contava na época com um sólido e extenso repertório autoral, e agarrou esta oportunidade de criar o seu primeiro disco solo. Milton também participou da primeira faixa, “Céu de Brasília”, parceria com Fernando Brant. Mas este é só o começo da aventura.

 

🦅🎸Segunda faixa do disco, “Diana”, outra parceria com Fernando Brant, começa com um comentário inesperado: “Diana primeira”. No texto que acompanha o encarte das duas versões do álbum, Toninho revela o mistério: a voz-guia para a música permaneceu no produto final. “A voz em ‘Diana’ era só de guia e ficou definitiva com o passar do tempo. Não havia razão para tentar cantar outra vez, anos depois, mesmo que viesse melhorar a qualidade técnica, a dicção e o volume de som. Toda a emoção do início do disco, o Bituca dando as fitas pra gente, a porta sempre aberta, o mar através dos janelões do estúdio, cachorros entrando e saindo, todo esse clima estava na voz de ‘Diana’.”

 

🦅🎸Assim como a topografia, o patrimônio arquitetônico e artístico, o café e a cachaça, Sinhá Olympia é um ícone das paixões, conflitos e sonhos de que a cidade de Ouro Preto é feita. Parceria com Ronaldo Bastos, a canção “Dona Olímpia” evoca este cenário mítico, acrescentando novas camadas de magia a “Terra Dos Pássaros”. Mas, como no exemplo da cidade histórica mineira, nem só de inspiração se erguem grandes obras. Desde a escolha do repertório até a concepção gráfica do produto, Ronaldo Bastos e Toninho Horta trabalharam juntos ao longo de mais de três anos para produzir e lançar “Terra Dos Pássaros”. “Dona Olímpia” foi composta por Toninho em 1970 para ser tema da trilha sonora do curta-metragem “Dona Olímpia de Ouro Preto”, de Luiz Alberto Sartori. Em 1976 Ronaldo compôs a letra, e em 1977 Nana Caymmi registrou pela primeira vez a canção no álbum “Nana”, em gravação antológica com o violão de Toninho Horta e arranjo de cordas de Dori Caymmi.

 

🦅🎸Muitos se perguntam por que “Terra Dos Pássaros” é creditado a Toninho Horta e Orquestra Fantasma, uma vez que a banda que acompanha o músico foi criada apenas em 1981. A ideia surgiu em conversas com o músico uruguaio Hugo Fattoruso, que participa do disco. “Hugo e eu ficamos muito amigos e quando disse a ele que adorava Orquestras Sinfônicas, começamos a imitar violinos e trompas com seu teclado e minha guitarra com pedal de volume. Daí, instituímos o som de uma orquestra ‘fantasma’”. Trata-se também de uma alusão aos músicos espetaculares que fazem parte do disco, quase o mesmos que acompanharam Milton Nascimento durante as gravações do LP “Milton”, de 1976. É um time dos sonhos: Airto Moreira, Wagner Tiso, Novelli, Raul de Souza, Nivaldo Ornelas, Mauro Senise, Robertinho Silva, Rubinho, Laudir de Oliveira, Lena Horta, Ringo Thielmann, os componente do grupo Boca Livre, George Fattoruso, entre outros.

 

🦅🎸”Terra Dos Pássaros” foi gravado em 5 estúdios diferentes entre julho de 1976 e setembro 1979. Shangri-lá Studios (Malibu), Paramount Studios (Hollywood), The Village Recorder (West Los Angeles), Estúdio Vice-Versa (São Paulo), Estúdio Transamérica (Rio de Janeiro). Nesse meio tempo, Toninho participou do “Clube da Esquina 2” e dos discos de Lô Borges, Beto Guedes, Gonzaguinha, Airto Moreira e Nana Caymmi. A reedição em CD, lançada pela Dubas em 2008 e disponível hoje nas plataformas digitais, foi produzida por Leonel Pereda e Ronaldo Bastos, e remasterizada por Luiz Tornaghi.

 

🦅🎸 A concepção gráfica original do disco é de Cafi, Ronaldo Bastos e Tadeu Valério. A edição em vinil apresenta uma sobrecapa azul escura com um letreiro feito por Rogério Martins (o Dick, da Nuvem Cigana), com um círculo recortado no meio que deixa em primeiro plano o rosto de Toninho Horta na foto que René Vincent fez do artista no estúdio do produtor Dick LaPalm, na Califórnia. Para a capa do CD lançado em 2008, a mesma imagem foi utilizada por Beto Marrtins, que além de restaurar fotos da época das gravações, criou a arte nova de encarte e contracapa.

 

🦅🎸 Não é apenas pela qualidade artística que “Terra Dos Pássaros” pode ser considerado um álbum único. O fato de ter alcançado o público, mesmo tendo sido produzido de forma inteiramente independente em um período em que padrões de mercado se consolidavam como regras para a indústria cultural, faz do disco uma joia rara. Lançado na virada para os anos 1980 pela EMI, o projeto foi recusado por diversas gravadoras por causa de sua imprevisibilidade de público. A originalidade do trabalho que Toninho Horta conseguiu realizar ao lado de Ronaldo Bastos, seu parceiro de produção, está em cada um dos aspectos do disco, concebido quase que artesanalmente ao longo de três anos e meio. A aventura “Terra Dos Pássaros” é rebelde sem ser “engajada” e se tornou cult sem deixar de ser pop.

 

🦅🎸 O título do álbum foi inspirado na guitarra Gibson Byrdland que Toninho Horta comprou em Los Angeles quando acompanhou Milton Nascimento na gravação do LP Milton (1976). “Comprei duas guitarras lá. A Birdland, que foi uma sugestão do Beto Guedes, uma guitarra que o Wes Montgomery, o meu maior ídolo, tocava. Mas também o pessoal da área do rock, o Eric Clapton, tinha uma foto dele tocando uma Birdland, tinha um som muito bonito. Essa guitarra eu tenho até hoje. E comprei uma preta, Gibson, modelo 335, que depois vendi para o #LôBorges.”, conta o músico no livro Toninho Horta: harmonia compartilhada. A guitarra, por sua vez, foi batizada em referência aos guitarristas Billy Byrd (daí a grafia com y) e Hank Garland, para quem a empresa norte-americana desenvolveu o modelo.

 

🦅🎸 “Terra Dos Pássaros” é um dos primeiros discos independentes feitos no Brasil. Sem o auxílio de uma gravadora nem sempre foi fácil dar continuidade ao projeto. Todos os custos foram bancados pelo próprio Toninho, ao longo dos mais de três anos de produção. Em 1977, uma adaptação de “Beijo Partido” foi incluída no repertório do disco “All ‘N All”, da banda Earth, Wind & Fire, sob o título de “Brazilian Rhyme – Intelúdio I”. Segundo Toninho, o valor que ele recebeu de direitos autorais daria para comprar um bom apartamento em Belo Horizonte. O músico investiu tudo na finalização de “Terra dos Pássaros”, seu primeiro disco solo, uma joia rara da música brasileira.