Profundo conhecedor das nossas tradições populares, Tavinho Moura construiu uma obra notável pela harmoniosa rigidez, coerência e lealdade às suas convicções artísticas.
Tavinho Moura é mineiro, nascido em Juiz de Fora, e sua contribuição para nossa cultura ultrapassa em muito o universo estrito de suas belas composições: ele tem sido um incansável pesquisador, descobridor e divulgador das tradições brasileira, especialmente de Minas Gerais. Em 1969, participou do primeiro Festival Estudantil da Canção, ganhando o segundo lugar com a música Como Vai Minha Aldeia, parceria com Márcio Borges. Nesta oportunidade, estreitou laços artísticos e de amizade com músicos como Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Milton Nascimento, Túlio Mourão e Murilo Antunes. Jornalista de formação, Fernando Brant, que à época já havia assinado suas primeiras composições, estava entre os jurados do festival. A trilha sonora do filme O Homem de Corpo Fechado (1972), de Schubert Magalhães, marca o primeiro trabalho formal de Tavinho como compositor. Desde então, paralelamente aos discos autorais lançados, construiu uma reconhecida carreira ligada à sétima arte. Ganhou inúmeros prêmios pelos trabalhos em uma longa lista de filmes: Cabaret Mineiro, Perdida, Noites do Sertão, Minas Texas, Vivos ou Mortos e O Tronco, entre outros. Os mais consagrados intérpretes brasileiros buscam no clássico popular de Tavinho seus momentos de maior densidade de expressão. Entre eles, estão Milton Nascimento, Beto Guedes, Almir Sater, Boca Livre, 14-Bis, Flávio Venturini, Simone, Pena Branca e Xavantinho, Engenheiros do Havaí e muitos outros.
A crítica especializada reverencia sua composição e investiga o vocabulário adequado para, com nitidez, traduzir a percepção do gênero, da forma e do conteúdo estético incomuns e instigantes de sua obra. São mais de 10 discos lançados, entre os quais Como Vai Minha Aldeia (1978), Tavinho Moura (1980), Cabaré Mineiro (1981), Engenho Trapizonga (1982), Noites do Sertão (1992), O Aventureiro do São Francisco (1994), Diadorado – Instrumental de Viola (1995). Em 1997, lançou “Conspiração dos Poetas” em parceria com Fernando Brant, um dos seus parceiros mais frequentes. O disco celebra uma amizade de mais de 30 anos. Também em parceira com Brant, criou o musical Fogueira do Divino que representa uma síntese da formação do povo brasileiro.
Dois anos depois, assinou a trilha sonora do filme O Tronco, que se passa em 1919 durante um conflito entre líderes políticos no Norte do Brasil. Em uma trama complexa e cheia de personagens, é a exatamente a música de Tavinho, com seus elementos regionais, que ajuda o público a obter uma compreensão ampla dos dramas retratados na história.
Com direção musical de Beto Lopes, o álbum Cruzada, lançado em 2001, traz arranjos de instrumentos de sopro e cordas pelo maestro Geraldo Vianna, e a participação especial da cantora Marina Machado, e do compositor e cantor Zé Renato, que canta com Tavinho em um belo tributo a Milton Nascimento. Em 2004, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, com arranjos e regência de Wagner Tiso, interpretou 16 obras do repertório de Tavinho. O compositor descreveu o projeto como “um sonho que é sonhado por todos os compositores que amam a música popular brasileira”.
Lançado em 2007, “Maria do Matué – Uma História do Rio São Francisco” marcou a estreia de Tavinho Moura na literatura. O livro resgata memórias e reconstrói vivências ditadas pelo ritmo do Rio São Francisco, sobretudo na região norte de Minas Gerais. “Rua do Cachorro Sentado”, o CD produzido para acompanhar o livro, tem 12 faixas, todas escritas por Tavinho Moura, algumas em parceria com Fernando Brant ou Ronaldo Bastos.
Em 2013, Tavinho Moura voltou aos estúdios para gravar “Minhas Canções Inacabadas”, no qual apresenta, em voz e violão, um repertório íntimo com originalidade e leveza. Lançado em 2015, em Beira da Linha, Tavinho Moura e sua viola catalisam riquezas transcendentais.
“Me sinto obrigado a criar algo que acrescente alguma coisa a aquele mundo específico e para isso solicito sempre um motivo condutor, aquele que com o passar dos anos se sedimentou na memória. Músicas que ouvi desde quando menino, que envelheceram comigo e que hoje me iluminam aonde
vou.” Tavinho Moura.
Portanto, desde o final dos anos 70, Tavinho Moura vem nos deleitando a cada composição, cada descoberta, cada interpretação, cada releitura, cada trilha, cada álbum. E o Anjo Na Varanda, seu lançamento mais recente, não é exceção.