Baile Pernambucano

Bicho maluco beleza do Largo do Amparo
Teu estandarte tão raro, Bajado criou
Usando tintas e cores do imaginário
Ai, quantas dores causaste ao teu caçador

Ô Ô Ô, Bicho maluco beleza
Com teu mistério, teu charme, teu sorriso largo
És o terror da família, não tens compaixão
Em quantas camas deitaste assim por acaso
Quantas princesas roubaste, maluco vilão

Vem morena pros meus braços
Vem morena, vem dançar
Quero ver tu requebrando
Quero ver tu requebrar
Quero ver tu remexendo
No resfolêgo da sanfona
Até o sol raiar
Esse teu fungado quente
Bem no pé do meu pescoço
Arrepia o corpo da gente
Faz o velho ficar moço
E o coração da gente
Bota o sangue em alvoroço
Esse teu suor salgado
É gostoso e tem sabor
Esse teu corpo suado
Com esse cheiro de fulô
Tem o gosto temperado
Dos temperos do amor

Minha cabeça mora no morro do pico
Estranho não é, uma hora de mar no avião
Se tu não pode viajar pra lá eu te digo
É o pico onde mora a beleza irmã do sertão
Vem não vem
A realidade chega
Pode vir de barco parar na areia
Pode ser que não
Vem que tem
Beleza, gentileza tem
Sotaque nenhum
Três mil pessoas de lá
Três mil pessoas que não
A ilha que afina pelo sol
Em meio a tanta coisa faz sentido
Renova tua alma banhada nessa água e sal
E a beleza do mundo todo
A beleza inteira total do mundo todo

Tô enfiado na lama
É um bairro sujo
Onde os urubus têm casas
E eu não tenho asas
Mas estou aqui em minha casa
Onde os urubus têm asas
Eu vou pintando, segurando as paredes
No mangue do meu quintal e manguetown
Andando por entre os becos
Andando em coletivos
Ninguém foge ao cheiro sujo
Da lama da manguetown
Esta noite sairei, vou beber com meus amigos
E com as asas que os urubus me deram ao dia
Eu voarei por toda a periferia
Vou sonhando com a mulher
Que talvez eu possa encontrar
E ela também vai andar na lama do meu quintal
Manguetown
Andando por entre os becos
Andando em coletivos
Ninguém foge a vida suja
Dos dias da manguetown
Fui no mangue catar lixo
Pegar caranguejo
Conversar com urubu

Pela madrugada
Quando sai da lama suja
Seus olhos brilham como o luar
A esperança de quem não tem nada a perder
Nem tão pouco o romance de achar que pode ganhar
Seu vocabulário farto de olhares
E palavras que não vão falar
Então o desespero e de repente o medo
De não conseguir motivo pra sambar
Deu doisinho, deu doisinho
Ficou doido pra sambar
Dentro de casa
Um verdadeiro inferno
Se a comida falta
A violência excede e ele luta sem pestanejar
Tem um bom motivo
É filho do acaso
Tamo em fevereiro
Tem festa na rua pra dançar
Se olhar no espelho não vai ver ninguém
Mas não tem mais vaidade
Ninguém vai reparar
Correndo no beco
Um leve desespero
De não conseguir motivo pra sambar
Se a policia não serve
Pra que veio?
Atrapalhar o carnaval inteiro
Deixa ele vestir seu personagem fevereiro
Que vai de janeiro a dezembro
O ano inteiro

Garçom aqui nessa mesa de bar
Você já cansou de escutar
Centenas de casos de amor
Garçom no bar todo mundo é igual
Meu caso é mais um, é banal
Mas preste atenção por favor
Saiba que o meu grande amor hoje vai se casar
Mandou uma carta pra me avisar
Deixou em pedaços meu coração
E pra matar a tristeza só mesa de bar
Quero tomar todas vou me embriagar
Se eu pegar no sono me deite no chão
Garçom eu sei, eu estou enchendo o saco
Mas todo bebum fica chato
Valente, e tem toda a razão
Garçom mas eu só quero chorar
Eu vou minha conta pagar
Por isso eu lhe peço atenção

Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade de ocê
Se um dia ocê se lembrar
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com a frase dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai que saudade sem fim
E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caía no choro
Eu chorando pela estrada
Mas o que que eu posso fazer
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é de ocê

Garotinha, garotinha há muito tempo
Estou de olho no teu sorriso
Te paquero, te paquero, te paquero
E não consigo ficar contigo
Uma volta talvez pela praça
Um bate papo no portão da tua casa
Eu só quero que diga sim
Venha correndo venha pra mim
Eu vou fazer promessa pra ficar contigo
Vem garotinha linda, vem garotinha linda
Teu corpo me fascina e teu sorriso é lindo
Vem garotinha linda, vem garotinha linda
Tu só me da despesa e só te dou carinho
Vem garotinha linda, vem garotinha linda

Voltei, Recife
Foi a saudade
Que me trouxe pelo braço
Quero ver novamente “Vassoura”
Na rua abafando
Tomar umas e outras
E cair no passo
Cadê “Toureiros”?
Cadê “Bola de Ouro”?
“As Pás”, Os “Lenhadores”
O “Bloco Batutas de São José”?
Quero sentir
A embriagues do frevo
Que entra na cabeça
Depois toma o corpo
E acaba no pé