Na Cadência do Samba

Força da imaginação, vai lá
Além dos pés e do chão, chega lá
O que a mão ainda não toca, coração um dia alcança
Força da imaginação, vai lá
Quando o poeta compõe mais um samba
Ele funda outra cidade
Lamentando a sua dor, ele faz felicidade
Força da imaginação, na forma da melodia
Não escurece a razão, ilumina o dia-a-dia
Quando uma escola traz de lá do morro
O que no asfalto nem é sonho
Atravessa o coração um entusiasmo medonho
Força da imaginação se espalhando na avenida
Não pra animar a fraqueza, mas pra dar mais vida à vida

Eu vou botar teu nome na macumba
Vou procurar uma feiticeira
Fazer uma quizumba pra te derrubar
Ô Iaiá
Você me jogou um feitiço
Quase que eu morri
Só eu sei o que sofri
Que Deus me perdoe mas vou me vingar
Mas eu vou botar teu retrato
Num prato com pimenta
Quero ver se você güenta
A mandinga que eu vou te jogar
Raspa de chifre de bode
Pedaço de rabo de jumenta
Tu vai soltar fogo pela venta
E comigo não vai mais brincar
Eu vou botar teu nome …
Asa de morcego
Corcova de camelo pra te derrubar
Uma cabeça de burro
Pra quebrar o encanto do teu patuá
Olha tu podes ser forte
Mas tens de ter sorte para te salvar
Toma cuidado comadre
Com a mandinga que eu vou te jogar

Se todo mundo procedesse
Como um moço que eu conheço
Meu Deus, que confusão
Tendo uma moça do seu lado
Fica todo embaraçado
Ardendo de paixão
Segue a moça se ela toma
Um automóvel, um trem
Ou um avião
Mas se vê todo enrolado
Quando peço uma explicação
Falou com a moça?
Não, não
Cutucou a moça?
Não, não
Mexeu com a moça?
Não, não
Então como é que agora você diz
Que toda moça lhe namora?
E agora como é que é?

Três dias de ventania e só
Foi tudo que me restou
Quem pode contar a história, amor
Ficar com a minha dor
Foi tudo poeira e confusão
E quando chegou ao fim
Um frio que vem do coração
Soprou dentro de mim
Nunca vou saber o que é que fez tudo mudar
Sei que o vendaval se desviou, voltou pro mar
Três dias de ventania e só
Foi tudo que aconteceu
Ninguém matou, ninguém morreu
Além do amor transformado em pó
Ninguém matou, ninguém morreu
No final foi tudo ventania e só
Três dias de ventania e só
Foi tudo que deu pra ser
Enquanto você deixou rolar
Eu voava com você
Mas quando você tentou fazer
O vento lhe obedecer
As nuvens chegaram pra ficar
E aí, pode esquecer

Eu vou mudar de vida
Vou mudar de atitude
E a primeira medida
É cuidar da saúde
Eu vou mudar de vida
Dessa vez eu me amarro
Já parei a bebida
Já deixei o cigarro
Eu vou, eu vou, eu vou
Faço tudo por um grande amor
Eu vou, eu vou
Faço tudo pelo nosso amor
Eu vou mudar de vida
Vou mudar de calçada

E a segunda medida
É parar com a noitada
Eu vou mudar de vida
Já não tô nessa praia
De ter noites perdidas
Me cansei da gandaia
Eu vou, eu vou…
Tomei as medidas e posso provar
Que são provisórias mas podem durar
O tempo eterno que a gente quiser
Te amar me faz até mudar, eu vou
Eu vou mudar de vida
Vou mudar de projeto
E a terceira medida
É arrumar nosso teto
Eu vou mudar de vida
Tô juntando dinheiro
Pra cortina florida
E pro novo canteiro
Eu vou, eu vou…
Eu vou mudar de vida
Vou mudar de partido
E tomei as medidas
Para ser bom marido
Eu vou mudar de vida
Vejam que maravilha
A ilusão tão perdida
Vai ter nova família

Joguei meu anzol no brejo
Pra saciar teu desejo
Queria pegar um badejo
E trocar num monte de beijo
Você me deixou no queijo
Inda disse que o nome do peixe é badêjo
É badêjo ou badéjo?
Você me deixou no brejo e não me deu nem um beijo
É badéjo ou badêjo?
Você não me deu um beijo me deixou aqui no brejo
Perguntei ao pescador
Às margens do rio Tejo
Ele não me explicou
Se é badêjo ou se é badéjo

Meu amor não faz assim
Não mereço esse despejo
Por que tanto faz pra mim
Se o nome do peixe é badéjo ou badêjo
É badêjo ou badéjo?
Eu te amei no atacado, você me amava no varejo
É badéjo ou badêjo?

E o que me importa
Que o mundo se acabe
Que a casa desabe
Se eu tiro o domingo pra sambar?
E o que me importa
Se a sogra desanca
Se a mula não manca
Se eu tiro o domingo pra sambar?
Trabalhador eu sou
E tenho os documentos aqui pra provar
Mas eu tiro o domingo pra vadiar
Eu amanheço cercado das boas do lugar aonde moro
E não exploro a boa vontade de ninguém
E aqui termino saudando as mulatas de todo o Brasil
O que me obriga a uma rima forçada com céu de anil

Lissolo ya bolingo yango nakosso pela bino lelo
Napessaka ye motema
Motema pe na nzoto mobimba
Lelo ekossouka*
Desprezou, desprezou meu amor
E fez de tanto brincar coração de iaiá, de ioiô
Quem mandou desprezar meu amor
Não adianta chorar que outro galo já cocorocô
Canta num outro terreiro porque teu contrato venceu
Baixa um pouquinho essa bola, agora quem manda sou eu
Eu te dei força na vida, você não me fortaleceu
Chega de papo furado, você não amou, se perdeu, me perdeu
Vai, vai embora por favor, me deixa em paz
Cansei do teu feijão com arroz, não quero mais

Desprezou, desprezou meu amor…
Na motema nasi nayebi
Olinkgaka nayo mossoussou
Lelo nakossenga
Tokabwana na bossenbo*
*canto lingala em português:
Vou te contar agora a história do meu amor
Dei a ele meu coração
Não só ao coração, mas meu corpo também
Mas agora vamos parar
Eu sinto que seu coração
está dividido
E você o deu a alguém
Separar com elegância

Quero o teu amor, criôla
Por favor não seja tola
Pra que serve então amar
Se você não sabe o que é se dar
Pra alguém da cor? Pois é
Olha, eu sou da pele preta
Bem pior pra se aturar
Mas se me der na veneta
Quero ver alguém amar
mais do que eu
Ô do cabelo, do cabelo pixaim
Eu quero você ligada só em mim

Deixe de lado esse baixo astral
Erga a cabeça, enfrente o mal
Que agindo assim será vital
Para o seu coração
É que em cada experiência
Se aprende uma lição
Eu já sofri por amar assim
Me dediquei mas foi tudo em vão
Pra que se lamentar?
Se em sua vida
Pode encontrar
Quem te ame
Com toda força e ardor
E assim sucumbirá a dor
Tem que lutar, não se abater
Só se entregar a quem te merecer
Não estou dando nem vendendo
Como o ditado diz
O meu conselho é pra te ver feliz

Vai começar o futebol, pois é
Com muita garra e emoção
São onze de cá, onze de lá
E o bate-bola do meu coração
É a bola, é a bola, é a bola
É a bola e o gol
Numa jogada emocionante
O nosso time venceu por um a zero e a torcida vibrou
Vamos lembrar a velha história desse esporte
Começou na Inglaterra e foi parar no Japão
Habilidade, tiro cruzado, mete a cabeça, toca de lado
Não vale é pegar com a mão
E o mundo inteiro se encantou com esta arte
Equilíbrio e malícia, sorte e azar também
Deslocamento em profundidade,
pontaria na hora da conclusão
Meio de campo organizou e vem a zaga rebater
Bate e rebate de primeira, ninguém quer tomar o gol
É coisa séria e é brincadeira, a bola vai e volta
E vem brilhando no ar
E se o juiz apita errado é que a coisa fica feia
Coitada da sua mãe, mesmo sendo uma santa
cai na boca do povão
Pode ter até bolacha, pontapé, empurrão
Só depois de uma ducha fria é que se aperta a mão (ou não…)
Vai começar o futebol…
Aos quarenta do segundo tempo, o jogo ainda zero a zero
Todo time quer ser campeão
Tá lá o corpo estendido no chão
São os minutos finais (vai ter desconto)
Mas numa jogada genial aproveitando o lateral
Num cruzamento que veio de trás,
Foi quando alguém chegou
Meteu a bola na gaveta e comemorou

Joga o jogo, joga o jogo, joga o jogo é…
Joga o jogo, joga o jogo
Joga o jogo, joga o jogo, joga o jogo é…
Joga joga o jogo
Não deixa o futebol perder a dança
Nem perca esse sorriso de criança
Não deixa o futebol perder
Passe no peito
Jogue de lado
Dê um sorriso mas não pise na bola
Dê carreirinha
Fique parado
Olhe pra gente que é essa a escola

Sonhei que existia uma avenida
Sem entrada e sem saída
Pra gente comemorar
Todo dia, toda hora
E toda vida
Na tristeza e na alegria
Sem platéia e sem patrão
Hoje eu sonhei que cerveja sai da bica
No banheiro não têm fila
Nem existe contra-mão
E que o trabalho
É ali na nossa esquina
E depois do meio-dia
Nem polícia e nem ladrão
Sonhei como faço todo dia
E como você não sabia
Meu senhor, não leve a mal
A beleza, o amor, a fantasia
O que tece e o que desfia
Não se aprende no jornal
Hoje eu sonhei
Mas não vou pedir desculpa
E nem vou levar a culpa
De ser povo e ser artista
Sem essa moço
Por favor não crie clima
Se o buraco é mais em baixo
Nosso astral é mais em cima