O Anjo Na Varanda traz safra singular de canções de um dos mais originais e sofisticados compositores do Brasil.
Tavinho Moura é compositor de qualidade rara. A peculiaridade de suas melodias, harmonias e divisões rítmicas, aliado a seu canto econômico e afinado e à escolha certeira dos parceiros que compõem versos para suas músicas, faz de Tavinho Moura um dos grandes tesouros da arte que melhor representa o Brasil.
Desde o final dos anos 70, Tavinho vem nos deleitando a cada composição, cada descoberta, cada interpretação, cada releitura, cada trilha, cada álbum. O Anjo Na Varanda não é exceção, mas tem algo que o torna especial. Na contramão dos tempos que correm, o álbum requer calma e concentração para ser devidamente apreciado. Mas o que à primeira vista poderia parecer um esforço, logo após os primeiros acordes transforma-se numa floresta de beleza e diversidade incomuns. Como a imagem dos trapezistas no circo, na letra de Fernando Brant, “é tudo um respirar, caminhar”.
Nessa caminhada, Tavinho Moura contou com o auxílio do grande músico mineiro Beto Lopes, que toca violão 7 cordas, baixo flats, baixo acústico, trompete e faz vocais em diversas faixas, além de dividir a autoria de uma das músicas (A Música E o Circo), as idéias, a direção musical e a produção do álbum. Outros músicos e intérpretes que embelezam a obra são: Wilson Lopes na guitarra de Eu E Mais Você, Mariana Brant nos vocais e Nelson Angelo no piano de A Música E o Circo, Chiquito Braga (em uma das suas últimas gravações) no violão, o Trio Amaranto nos vocais e Gabriel Grossi na gaita de Clara Clara Clara, Paulinho Carvalho no baixo de Cabaré Mineiro e Barbara Barcelos nos vocais de A Grande Graça.
Entre os parceiros letristas, o mais presente é o saudoso Fernando Brant, nas letras de O Fruto do Ouro, Casa de Barro, Encontro das Águas e A Grande Graça, do repertório do musical “Fogueira do Divino”, concebido pela dupla em 2000 ; em O Sono do Rio, também de início dos anos 2000; em Clara Clara Clara, de 2006; e nas mais recentes A Música E O Circo e Dona do Olhar, canções que, além de atestar o nível que Fernando Brant
atingira antes de nos deixar no plano físico, representam uma continuidade e um desenvolvimento do trabalho que vinha sendo apresentado na parceria com Tavinho, especialmente a partir do álbum “Conspiração dos Poetas”, de 1997 – não por acaso, Tavinho considera O Anjo na Varanda sua “Conspiração dos Poetas 2”.
Outro amigo de longa data e parceiro importante na produção recente de Tavinho Moura é Ronaldo Bastos, quem mostra vitalidade no temaabertura do álbum Eu E Mais Você (dos versos “O mistério de tocar um coração / o poeta quando quer é pra valer”), em O Anjo na Varanda e na mágica Menino Bente Altas. Chico Amaral é parceiro novo e ilustra com seus versos Serra da Lua, música que nasceu de uma viagem de Tavinho a Roraima, à procura por aves raras.
O álbum conta ainda com uma nova gravação do poema de Carlos Drummond de Andrade musicado por Tavinho Cabaré Mineiro, e a releitura do clássico de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri para a peça Arena Conta Zumbi Morte de Zambi.
Como diz Fernando Brant, “a música é a conversa de deuses”. O Anjo na Varanda pode ser uma belíssima surpresa para os admiradores da arte de Tavinho Moura ou uma excelente porta de entrada para a obra de um dos maiores artistas da música nascida das Minas Gerais. Talvez esteja na hora de descobrir esse tesouro “barroco”, brasileiro e quase secreto.