“Manuel, o Audaz”, de Fernando Brant e Toninho Horta, completa 50 anos em 2019. Abaixo acompanhamos esta adorada canção, sinônimo de coragem, aventura e companheirismo, por algumas das principais estradas que ela já percorreu.

O Jeep amarelou

Manuel, o Audaz foi o nome com que Fernando Brant batizou um jeep que possuía na época em que escreveu a letra da música. Segundo ele, a alcunha era uma forma de emprestar ao veículo uma nobreza mítica, implícita em nomes como Alexandre, o Grande, Guilherme, o Conquistador e, principalmente, Dom Manuel, o Venturoso, rei de Portugal quando do descobrimento do Brasil. Toninho Horta costuma contar em seus shows histórias mirabolantes a respeito de Manuel, o Audaz. A mais conhecida delas relata que Fernando Brant tirava o volante do jeep e dormia com ele debaixo do travesseiro com medo de que roubassem o carro. Segundo Brant, a história não é factual, mas serve para construir o rico imaginário em torno desse grande personagem, o jeep mais famoso da música brasileira.

Eu vejo mais a rua, luz, estrada, pó…

Fernando Brant intuiu na melodia de Toninho Horta um espírito aventureiro, uma vontade de viajar, colocar o pé no mundo, e achou que isso tinha tudo a ver com o seu jeep. Assim como outras parcerias da dupla, “Manuel, o Audaz” aborda a necessidade de contemplar as coisas belas do cotidiano e ressalta memórias afetivas, criando assim um universo próprio entre o sonho e a realidade. O mesmo acontece em “Aqui, oh!”, “Céu de Brasília” e “Diana”, por exemplo. Consta que, no primeiro momento, Toninho tomou um susto com a letra. Pareceu-lhe pouco ortodoxo dedicar uma música a um jeep de guerra. Mas o tempo mostrou que Fernando Brant estava certo em sua intuição. “Manuel, o Audaz” tornou-se um hino para os apaixonados por carros, viagens e aventura. Uma road song nascida em meio à poeira e às paisagens das estradas que cortam Minas Gerais.

Vamos lá viajar

“Manuel, o Audaz” é uma balada que reforça a genialidade de Toninho Horta em construir a harmonia de suas composições. Ao ouvi-la temos a sensação de que o chão some e começamos a levantar voo a bordo do jeep de Fernando Brant. Em depoimento para o Museu da Pessoa em 2004, o músico afirmou que estava bastante influenciado por Jorge Ben e seu samba jazz – sobretudo pelas canções do disco Big Ben (1965) – na época em que compôs a melodia. Segundo Toninho, “Manuel, o Audaz” dialoga com o pop-rock, mas carrega uma delicadeza ornamentada, inspirada na arte barroca de Minas Gerais. O primeiro registro gravado da canção se deu no antológico e raro disco “Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli, Toninho Horta”, de 1973. O encontro de Minas com o Nordeste de Novelli e o Rio de Janeiro baiano de Danilo Caymmi ampliou os horizontes de “Manuel, o Audaz”, que depois seria gravada por outros grandes nomes, como Lô Borges, Flávio Venturini e Jane Duboc.

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